domingo, 12 de junho de 2011

A escola do silêncio

Feche os olhos, tente voltar no tempo, para o tempo em que você era uma criancinha com seis ou sete anos. Primeira aula na escola e a professora começa a falar:

- Jetzt gehen wir lernen duits zu schreiben...

Putz!!! Ela está falando Alemão (naquela época, você provavelmente não conseguiria nem chegar a essa conclusão). E agora? Depois de chorar à beça, você ia acabar descobrindo que o melhor é ficar quietinho e fingir que está entendendo - cara de paisagem é sempre uma boa estratégia.

Se Alemão é difícil para nós. Português é difícil para as crianças alemãs nas escolas de comunidades pequeninhas no Rio Grande Sul. Clarice Lispector, falante nativa de íidiche, deve ter aprendido muito sobre o silêncio na experiência da escola monolíngue em Português para crianças que não falavam Português.

Durante a segunda guerra, Getúlio Vargas decidiu proibir as línguas estrangeiras no Brasil, especialmente Alemão, Italiano e Japonês - justamente três dos povos que formam boa parte da sociedade brasileira do sul do país. Proibir na ditadura getulista significava prender quem desobedecia, torturar etc.

Não era a primeira vez que um decreto proibia a diversidade linguística do território brasileiro. Já em 1757, Pombal proibiu que as pessoas falassem a língua geral no território de Maranhão e Grão Pará. De ditadura em ditadura, chegamos à proibição das línguas dos imigrantes.Só em 1988, começamos a mudar esse quadro - os povos indígenas passaram a ter o direito constitucional de ensinar em suas próprias línguas. Os povos estrangeiros, no entanto, continuam silenciados pela lei do monolinguismo.

O vídeo fala de política linguística no sul do Brasil e menciona o documentário Walachai de Rejane Zilles (Brasil, 2009). Estou morrendo de vontade de ver, mas acho que vou levar um tempinho para ter acesso. Vai a dica para quem está no Brasil (a Biblioteca da ECA-USP costuma ter esses filmes):




Post escrito em junho, 2010

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